Startup finlandesa desenvolve uma bateria que utiliza areia para funcionar. Um protótipo já atende o distrito de Kankaanpää, com resultados promissores.
A ideia parece saída do laboratório do Professor Pardal, mas já vem sendo testada e, incrivelmente, funciona: uma bateria ecológica à base de areia.
Um startup finlandesa, a Polar Night Energy, descobriu que com certa quantidade de areia de construção – portanto, uma areia de média para baixa qualidade – é possível montar uma bateria e armazenar energia com a mesmo eficiência de uma bateria convencional.
Um protótipo do equipamento está atualmente em fase de testes no distrito de Kankaanpää, no oeste do país, mantendo casas, escritórios, fábricas e até as piscinas públicas locais aquecidos.
O projeto é de uma simplicidade estonteante, embora o tamanho da bateria e quantidade de areia exigida – algumas centenas de toneladas – possa assustar alguns. Trata-se, efetivamente, de uma bateria de areia gigante.
Para o protótipo, foi suficiente preencher um container de aço de 4m X 7m com areia e, em seguida, aquecê-la com energia eólica ou solar. O sistema funciona, tecnicamente, através de aquecimento resistivo – o mesmo processo que faz o forno elétrico funcionar. Isso gera ar quente, que circula na areia por meio de um trocador de calor.
Pode descarregar um máximo de 100kW de energia térmica e tem uma capacidade total de energia de 8MWh. A bateria é tão eficiente que a energia pode ser armazenada por muito, muito tempo. Pois, além de ser durável e barata, a areia também é, geralmente, bastante densa. É capaz de armazenar muito calor sem dissipação e uma temperatura de cerca de 500 a 600 graus Celsius. Assim, uma vez aquecido, o silo pode permanecer quente por meses com intervenção mínima.
Parcerias – O projeto nasceu da cabeça de dois jovens especialistas em energia térmica, que fundaram a Polar Night Energy em 2016. Nascida no ambiente universitário, a ideia começou a ser aplicada quando a empresa firmou uma parceria com a fornecedora de energia Vatajankoski, que decidiu financiá-la em parte.
Pouco depois, a startup ganharia apoio do governo finlandês, preocupado com a falta de combustível devido ao aumento dos preços do gás.
O problema foi recentemente agravado, e ao extremo, com a exigência da Rússia – a principal fornecedora de gás à Finlândia – de receber em rublos, como reação às sansões impostas a ela pela União Européia, Estados Unidos e outros países como consequência de sua invasão da Ucrânia.
OS finlandeses se recusaram a pagar a não ser em euros, mesmo conscientes de que é um país nada tropical, experimentando sempre invernos longos e gélidos. A decisão da Finlândia de ingressar na Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) só reforçou a decisão russa de cortar o fornecimento.
Assim, a bateria de areia da Polar Night Energy poderia representar, a curto prazo, devido à simplicidade do esquipamento e a facilidade da montagem, uma saída inesperada para a Finlândia desta sinuca de bico. Sem contar que a bateria atenuaria a questão dos preços mais caros da energia nos períodos frios.
Energia intermitente – O Curioso é que, sob certos aspectos, a “energia da areia” é inclusive mais vantajosa do que a energia eólica e a solar, tidas como as mais “verdes” e econômicas da atualidade.
Embora sejam extremamente úteis e eficientes, elas têm a desvantagem de oferecer apenas energia intermitente. Ou seja, a energia não pode ser armazenada em seus equipamentos em sua forma original e, por isso, ela só é transformada em eletricidade enquanto o recurso estiver disponível no sistema de geração.
E há outra questão específica à geografia finlandesa: ao mesmo tempo em que novos painéis solares e turbinas eólicas podem ser rapidamente adicionados às redes de distribuição, como manter as luzes acesas quando o sol ão brilha e o vento não sopra, fenômenos bastante comuns naquele gelado país nórdico?
Quer dizer, adicionar mais energias renováveis à rede elétrica é sempre uma boa ideia, mas isso também significa que é perigoso aumentar a presença de fontes de energia mais tradicionais, para equilibrar a rede, para evitar possíveis colapsos.
A resposta dada pela bateria de areia a esta questão é igualmente certeira. As baterias verdes de grande tamanho podem armazenar e equilibrar as demandas de energia sem a necessidade de se recorrer tanto às usinas térmicas.
O custo dessa bateria é outro diferencial. Atualmente, a maioria das baterias é feita com lítio, e é bastante cara, além da extração do lítio exigir grande exploração de recursos naturais e gerar lixo. O que não acontece com a areia.
Um dos grandes desafios agora desta tecnologia é se ela pode ser aplicada em usos mais amplos, para fornecer eletricidade e calor em maior escala.
Pois a eficiência da bateria de areia é drasticamente subaproveitada quando é usada apenas para devolver energia à rede elétrica. O ideal é que ela armazene energia verde também como calor a longo prazo, para uso industrial. por exemplo.
Isso traria outra vantagem. Afinal, a maior parte do calor de processo usado na produção de alimentos e bebidas, têxteis ou produtos farmacêuticos vem da queima de combustíveis fósseis.