A onda de fusões e aquisições no setor de semicondutores movimenta bilhões de dólares em 2020. Altos custos de produção e necessidade de conquistar mais participação de mercado incentivam essas transações.
A indústria de semicondutores parece não ter mais espaço para as empresas de menor porte, exceto para aquelas voltadas a nichos de mercado. É o que sugerem as fusões e aquisições que vêm sendo anunciadas neste segundo semestre de 2020, ano em que o movimento de consolidação de empresas havia iniciado em ritmo mais lento.
Os valores envolvidos nesses negócios impressionam. Um relatório da IC Insigths publicado em setembro indicava que somente duas aquisições anunciadas em Julho e em Setembro – a compra da Maxim pela Analog Devices e da aquisição da ARM pela Nvidia – que somam mais de US$ 63 bilhões, já garantiam que 2020 entre para os anais do como o segundo ano com maior volume de negócios realizados, depois de 2015.
Ocorre que, depois de o relatório ter sido lançado, houve outros acordos: A Advanced Micro Devices (AMD) anunciou a compra da Xilinx por US$35 bilhões no dia 27 de outubro. Já no dia 29 de outubro a Marvell Technology anunciou acordo para comprar a Inphi Corporation por US$10,63 bilhões. E há quem aposte que novos acordos de compra sejam anunciados no curto prazo. Em 2015, foram anunciados mais de 30 acordos, envolvendo US$107,7 bilhões.
Motivos – A onda de fusões e aquisições no setor de semicondutores que se observa faz alguns anos é considerada natural num mercado maduro, com mais de 60 anos de existência. É que essa indústria tem dois grandes desafios: a escalada nos custos de produção dos chips cada vez menores e confiáveis, o investimento é enorme em todas as fases de produção, desde o projeto ao empacotamento e testes, tornando-se impraticável para empresas de menor porte, especialmente.
Em que pesem as grande tendências como a Internet das Coisas e 5G que ampliam, sem dúvida, o mercado global de semicondutores, a taxa de expansão não tem sido tão exuberante quanto a esperada. Segundo especialistas, nos últimos 15 a 20 anos, a indústria de semicondutores registra crescimento anual médio de menos de 5%. Em contextos como esse, a indústria necessita de alto volume de produção para competir. A alternativa tem sido as fusões e aquisições. Elas representam um esforço para conquistar mais participação de mercado, cortar custos, aumentar a produtividade e, claro, melhorar o retorno do investimento por meio da economia de escala.
AMD – A AMD e a Xilinx anunciaram no dia 27 de outubro que firmaram um acordo definitivo pelo qual a AMD comprará todas as ações da Xilinx por US$35 bilhões. A concretização do acordo aumentará de forma significativa o portfólio de produtos da AMD.
Os portfólios de produtos da empresas são complementares. Com a aquisição, a AMD passará a oferecer processadores de alta performance, combinando CPUs, GPUs, FPGAs, Adaptive SoCs e expertise em softwares, ampliando a presençã em segmentos estratégicos, envolvendo desde data centers a jogos, PCs, comunicações, automotivo, industrial, aerospacial e de defesa.
“Nossa aquisição da Xilinx marca a próxima etapa em nossa jornada para estabelecer a AMD como líder de computação de alto desempenho da indústria e parceira preferida das maiores e mais importantes empresas de tecnologia do mundo”, comenta a presidente e CEO da AMD, dra. Lisa Su. “Esta é realmente uma combinação atraente que criará valor significativo para todas as partes interessadas, incluindo os acionistas da AMD e da Xilinx, que se beneficiarão do crescimento da empresa combinada. A equipe da Xilinx é uma das mais fortes do setor e estamos entusiasmados em recebê-los na família AMD. Combinando nossas equipes de engenharia de classe mundial e profunda experiência de domínio, criaremos um líder do setor com visão, talento e escala para definir o futuro da computação de alto desempenho.”
“Estamos entusiasmados em nos juntar à família AMD. Nossas culturas compartilhadas de inovação, excelência e colaboração tornam esta combinação ideal. Juntos, lideraremos a nova era da computação adaptativa e de alto desempenho”, afirma Victor Peng, presidente e CEO da Xilinx. “Nossos FPGAs, SoCsadaptáveis, aceleradores e soluções SmartNIC líderes permitem e inovação desde a nuvem até dispositivos de ponta e finais. Capacitamos nossos clientes a implantar plataformas diferenciadas para o mercado mais rapidamente e com eficiência e desempenho ideais. A união com a AMD ajudará a acelerar o crescimento em nossos negócios de data center e nos permitirá buscar uma base de clientes mais ampla em mais mercados”.
Marvell – A Marvell Technology Group Ltd. e a Inphi Corporation anunciaram no dia 29 de outubro acordo definitivo pelo qual a Marvell adquirirá a Inphi numa transação que envolverá dinheiro e troca de ações. Em conjunto com a transação, a Marvell pretende se reorganizar para que a empresa combinada seja domiciliada nos Estados Unidos, criando uma empresa de semicondutores com um valor empresarial de aproximadamente US$40 bilhões.
A Inphi construiu uma plataforma de interconexão de dados de alta velocidade, adequada para atender à demanda por mais largura de banda e baixo consumo de energia para os data centers em nuvem e redes globais do futuro. O portfólio de eletro-óptica de alta velocidade da Inphi fornece a estrutura de conectividade para data centers em nuvem e redes de operadoras com e sem fio, assim como o portfólio de camada física de cobre da Marvell faz para redes corporativas e futuras em veículos. A combinação do portfólio de armazenamento, rede, processador e segurança da Marvell com a plataforma de interconexão eletro-óptica da Inphi posicionará a empresa combinada para a tecnologia de ponta a ponta em infraestrutura de dados. Esta transação complementar expande o mercado endereçável da Marvell, fortalece a base de clientes para o melhor posicionamento da Marvell em data centers em nuvem hiperescala e infraestrutura sem fio 5G.
Nvidia – A Nvidia, uma das maiores empresas globais de placas de vídeo, anunciou a compra da Arm, líder de mercado de processadores móbile, pertencente à Softbank, por US$40 bilhões no 13 de julho. Trata-se de uma das maiores transações da área.
A Arm, adquirida pelo conglomerado japonês por US$31 bilhões em 2016, continuará sediada em cambridge, no Reino Unido, e continuará operando seu modelo de licenciamento aberto, mantendo a neutralidade com relação aos clientes. Entre seus clientes estão gigantes Apple, Samsung e Qualcomm.
“A IA é a força de tecnologia mais poderosa de nosso tempo lançou uma nova onda de computação”, diz Jensen Huang, fundador e CEO da Nvidia. “Nos próximos anos, trilhões de computadores executando IA criarão uma IoT, que será milhares de vezes maior do que a IoT de hoje. Nossa combinação criará uma empresa fabulosamente posicionada para a era da IA.”
Analog Devices – A Analog Devices, Inc. e a Maxim Integrated Products, Inc. anunciaram no dia 13 de julho que firmaram um contrato definitivo segundo o qual a Analog Devices adquirirá a Maxim em uma transação com todas as ações que estima um alor da empresa combinada em mais de US$68 bilhões, com base no preço das ações em 10 de julho de 2020, ações totalmente diluídas e dívida líquida relatada mais recentemente. A transação foi aprovada por unanimidade pelos conselhos de administração de ambas as empresas.
Nos termos do contrato, os acionistas da Maxim receberão 0,630 por uma ação ordinária da Analog Devices para cada ação ordinária da Maxim que possuírem no fechamento da transação. Após o encerramento, os atuais acionistas da Analog Devices serão donos de 69% da empresa combinada, enquanto os acionistas da Maxim serão donos de 31%. A Transação pretende se qualificar como uma reorganização isenta de impostos para fins de imposto de rende federal dos EUA.